Futuro do Espiritismo
Dissertações Espíritas
CONHECER-SE A SI MESMO
(Sociedade Espírita de Sens, 9 de março de 1863)
O que muitas vezes impede que vos corrijais de um defeito, de um vício, é, certamente, o fato de não perceberdes que o tendes. Enquanto vedes os menores defeitos do vizinho, do irmão, nem sequer suspeitais que tendes as mesmas faltas, talvez cem vezes maiores que as deles. Isto é conseqüência do orgulho,que vos leva, como a todos os seres imperfeitos, a não achar nada de bom senão em vós. Deveríeis analisar-vos um pouco como se não fôsseis vós mesmos. Imaginai, por exemplo, que aquilo que fizestes ao vosso irmão, foi vosso irmão que vos fez. Colocai-vos em seu lugar: que faríeis? Respondei sem segundas intenções, pois acredito que desejais a verdade. Fazendo isto, estou certo de que muitas vezes encontrareis defeitos vossos que antes não havíeis notado. Sede francos convosco mesmos; travai conhecimento com o vosso caráter, mas não o estragueis, porque as crianças mimadas muitas vezes se tornam más e aqueles que as mimam em excesso são os primeiros a sentir os efeitos. Voltai um pouco o alforje onde são colocados os vossos e os defeitos alheios. Ponde os vossos à frente e os dos outros para trás e tende cuidado para não baixar a cabeça quando tiverdes vossa carga à frente.

La Fontaine

A AMIZADE E A PRECE

(Sociedade Espírita de Viena, Áustria – Traduzido do alemão)

Ao criar as almas Deus não estabeleceu diferença entre elas. Que esta igualdade de direitos entre elas sirva de princípio à amizade, que outra coisa não é senão a unidade nas tendências e nos sentimentos. A verdadeira amizade só existe entre os homens virtuosos, que se reúnem sob a proteção do Todo-Poderoso, para se encorajarem reciprocamente no cumprimento de seus deveres. Todo coração verdadeiramente cristão possui o sentimento da amizade. Ao contrário, esta virtude encontra no egoísmo das almas viciosas o escolho que, semelhante à semente caída sobre a rocha árida, a torna infecunda para o bem.

Cercai vossa alma com o muro protetor de uma prece cheia de fé, a fim de que o inimigo, seja interno ou externo, aí não possa penetrar.

A prece eleva o Espírito do homem para Deus,liberando-o de todas as inquietudes terrenas, transportando-o para um estado de tranqüilidade, de paz, que o mundo não lhe poderia oferecer. Quanto mais confiante e fervorosa for a prece, melhor será ouvida e mais agradável a Deus. Quando a alma do homem,inteiramente penetrada de zelo santo, eleva-se para o céu na prece íntima e ardente, os inimigos interiores 26, isto é, as paixões do homem, e os inimigos exteriores, isto é, os vícios do mundo, são impotentes para forçar os muros que a protegem. Homens, orai a Deus com toda confiança, do fundo do coração, com fé e verdade!

O FUTURO DO ESPIRITISMO

(Lyon, 21 de setembro de 1862 – Médium: Sra. B...)

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço,na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a idéia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus. 26 N. do T.: Grifo nosso. Exteriores, no original, devido a provável falha de revisão no prelo. A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado,porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da idéia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas idéias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta. Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da idéia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a idéia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.

(Um filósofo do outro mundo)

R.E. , junho de 1863, p. 265